terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Soulfly em Goiânia

 E quem diria que um dia o Soulfly tocaria aqui em Goiânia?
Desde as primeiras vezes que  ouvi falar sobre um possível show da trupe de Massimiliano Cavalera por aqui  fiquei com um pé atrás, pois acompanho o Soulfly desde o começo da carreira da banda, no já longínquo 1998, e nesses anos todos vi várias e várias turnês brasileiras serem marcadas e desmarcadas, muitas vezes por motivos bem insignificantes, o que só reforçava os boatos sobre uma possível má vontade do casal Cavalera para com o Brasil.
Quando fiquei sabendo que Max sofreu uma paralisia facial algumas semanas atrás pensei: pronto, adeus show em Goiânia! Mas ainda bem que eu estava errado, pois apesar desse `detalhe` o velho Max Possessed fez questão de manter as datas da tour brasileira.
O preço do ingresso em GYN foi o mais caro de toda a tour, que além daqui passou por São Paulo e Rio de Janeiro. Se eu não me engano o primeiro lote foi R$ 90,00, depois R$ 110,00 e por fim R$ 130,00, uma autêntica paulada! Na semana do show a Sangre soltou um lote a R$ 65,00, que indignou alguns que já haviam morrido na grana dos ingressos mais caros.
Como sou um fã doente dos primeiros trabalhos do Soulfly (até o Dark Ages de 2005) preparei os planos A, B e C para ir ao show, felizmente o B deu certo e consegui meu ingresso na boa, não me perguntem como porque eu não posso revelar nem sob tortura feita com audições seguidas de algum disco do Manowar!
 Indo para o show recebi do Juninho (Hocus Pocus) a missão de ciceronear um casal de Rio Verde que veio para o show e não tinha a menor idéia de para que lado ficava o tal do Jaó. Peguei o baú com eles e enturmamos legal. Havia uma informação de que as bandas de abertura começariam a tocar às 19:00 em ponto, mas chegamos lá mais ou menos a essa hora e nada, ficamos do lado de fora, tomando umas e conversando sobre o Soulfly, o Chipset Zero, o time de Rio Verde e outras assuntos igualmente significantes, de vez em quando íamos até o portão do Sol Music Hall (hehe, viajo nesses nomes pomposos para coisas velhas, para mim é Jaó e pronto!) para ver se os shows já tinham começado, e invariavelmente retornávamos para a barraquinha onde estávamos bebendo, a essa altura já éramos fregueses vip do estabelecimento!
Até que escureceu e alguém falou que o Claustrofobia estava tocando, fomos ver e estavam mesmo, aí entramos.
O som estava muito bom, assisti umas duas músicas com o casal e fomos cada um para um canto assistir o show dos paulistas. Já tinha ido em algumas apresentações deles antes, mas por mil motivos (imaginem quais!!!) nunca tinha prestado muita atenção neles, mas agora foi diferente, desde que o guitarrista Kroma Alexandre de Orio lançou o livro `Metal Brasileiro: Ritmos Brasileiros Aplicados na Guitarra Metal – Novos Caminhos para Riffs de Guitarra`  algumas semanas atrás, passei a acompanhá-los com muita atenção, pois sou `viciado` nessa mistura de percussão/ritmos brasileiros com metal.
Achei legal quando soube que eles seriam uma das bandas de abertura do Soulfly aqui em GYN, além da curiosidade sobre o Kroma queria também ouvir como ficariam ao vivo as músicas do bom disco `Peste`, lançado há pouco tempo atrás.
Resumindo, sou o mais novo fã do Claustrofobia, os caras mandaram muito bem, músicas extremamente pesadas e bem tocadas, palhetadas do cão e um baterista infernal, além de um ótimo groove que cai muito bem no estilo deles, gostei deveras!
O que chamou muito minha atenção foram a ótima presença de palco e o entrosamento musical da banda, que com certeza são frutos de muitos ensaios e inúmeros shows em buracos daqui e do velho mundo. É até covardia uma banda estradeira como o Claustrofobia pegar uma aparelhagem como a do show do Soulfly, os caras são acostumados a tirar leite de pedra, quando pegam uma aparelhagem top é gol na certa!
Também gostei dos discursos `malandrões` do vocal entre uma música e outra, com aquele sotaque paulista que eu sempre acho engraçado, hehe!
 Logo que entrei no show fui ao bar porque tinha uma suspeita de que o goró estaria `majorado` mas não esperava tanto, R$ 5,00 uma lata de Devassa, preço de lupanar!
Por conta disso minha cota de álcool para o show foi drasticamente reduzida, tinha levado uma grana legal pensando em chapar o melão mas não virou, ia de vez em quando no bar e morria em uma Devassa.
Após o Claustrofobia foi a vez do Kamura, que eu estava curioso para ver, por causa de 2 membros que são chegados das antigas e também por causa da verdadeira comoção que a escalação deles para a abertura do show gerou.
Logo que eu vi os primeiros flyers e cartazes com o nome deles já pensei `vai começar a choradeira, o drama!` e não deu outra, várias e várias bandas que se achavam no direito de abrir o show do Soulfly direcionaram suas metralhadoras vocais para o Kamura, com as mais variadas `acusações`.
Achei o som legal, mas nada demais, na real esperava mais, principalmente por causa dos currículos e do talento do Marlos e do Ikaro, mas isso é apenas minha opinião.
Obviamente eles estão fazendo algo certo porque constantemente estão tocando com bandas grandes (irão abrir para o Brujeria em Brasilia dia 21/04) e em boas condições, uma das coisas que uma banda precisa ter para conseguir boas chances é trabalho de bastidores, e isso eles tem. Os caras abriram o show por méritos próprios, quem quiser chegar no patamar deles faça os corres que eles estão fazendo, ou recolha-se à sua mediocridade e pare de chorar pela sorte (leia-se correria) alheia.
 Após o show do Kamura um dos figuras da organização me disse que o Soulfly iria começar a tocar às 22:00 em ponto, no máximo com alguns minutos de atraso. E foi isso que aconteceu!
Rolou uma intro bem cabulosa, com bastante percussão e uma melodia que lembrava músicas folclóricas de alguns países do leste europeu, e aí o show começou com `Rise of The Fallen`, que para mim não fede nem cheira, acho bem mediana.
O repertório foi bem dividido entre músicas dos primeiros trabalhos do Soulfly e os inevitáveis covers do Sepultura.
Quanto à performance da banda achei o seguinte: Max, carisma absurdo, voz ainda potente, mas `brinca` de tocar guitarra ao vivo, no melhor estilo `Tim Maia` puxa as músicas e deixa o trabalho pesado para o Rizzo, que mata a pau ao vivo, reproduzindo quase perfeitamente os riffs, arpejos, e efeitos que coloca nos discos do Soulfly.
Tony Campos segurou o baixo com competência, além de ser uma figuraça com a sua absurdamente feia barba!
Zyon Cavalera, tocou bem as partes mais `quebradas` das músicas do Soulfly mas errou bastante nas partes mais `porradas`, especialmente no material clássico do Sepultura, tem que pegar umas aulas sobre os detalhes dessas músicas com o tio!
O som estava muito bom, nítido, mas como a minha expectativa por um show do Soulfly era absurdamente alta achei o show no máximo legalzinho.
Sempre procuro shows completos do Soulfly na web, e tenho que aceitar o fato de que aquela banda ousada, experimental, que mandava ver até mais ou menos 2004 não existe mais, foi substituída por uma banda correta, extremamente profissional, mas que por isso mesmo acaba fazendo shows de certa forma `burocráticos`, onde o espaço para improvisos se limita às falas do Max. Até a `tribal jam` que eu morria de vontade de ver ao vivo soou sem graça, uma percussão bem fraquinha, uma autêntica `macumba para turista`.
Ao optar por abrir mão dos elementos percussivos/eletrônicos e de world music em seu som, a partir do disco `Conquer`, de 2008, o Soulfly, para mim, passou a soar como os milhares de bandas `apenas pesadas`, que em sua maioria foram influenciadas pelo trabalho de Max com o Sepultura. Perderam o diferencial, o apelo, o experimentalismo que os destacava na mesmice da cena metal atual, passaram a soar como as bandas que tentam os copiar, em um surreal círculo vicioso.
Se fosse explicar a minha teoria sobre as razões da mudança do direcionamento musical do Soulfly teria que escrever um verdadeiro tratado, e esse não é de maneira nenhuma o caso aqui, quero apenas relatar minhas impressões sobre o show, em outra oportunidade escreverei sobre isso.

De qualquer forma o dia 24/02/2012 foi uma data histórica para a cena metal goiana, espero que mais produtores tenham os culhões para trazerem bandas grandes de metal para GYN, pois  Goiânia já provou que tem um público viável para bandas médias e grandes de som pesado.
Mas esse público só aparecerá em peso se os produtores refletirem bem e não repetirem os erros de produções passadas, em português bem claro, se eles não exagerarem nos preços para o público.
Quero aplaudir publicamente a coragem da Sangre (um braço da Monstro Discos) em trazer esse show para Goiânia, seria muito mais fácil deixar alguém de BSB levar esse show para lá, mas os caras bateram o pé e fizeram questão de realizar o evento aqui. Ao que tudo indica o show deu ré, acho que principalmente por causa do preço, mas os caras foram extremamente corajosos e pensaram grande, e isso não tem preço, parabéns!
Amenidades: foi impressionante a quantidade de `metaleiros` velhos que o Max exumou! Trombei figuras que eu não via há 10 anos, com exceção de duas ou três não lamentadas ausências, aquela galerinha que por volta de 91/92 enchia a cara de pinga (da tia!) escutando `Arise` estava quase toda lá!
Quero registrar também a presença de chegados de Anápolis, Trindade, e Brasília, que vieram em bom número assistir o show, voltem sempre!







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